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Uma crença é uma ideia que quando repetida em larga escala acaba se enraizando no nosso íntimo de tal forma que se torna uma verdade. Pois, ainda hoje, em pleno século 21, muitas das nossas crenças pela ausência de um filtro são consideradas verdades categóricas e definitivas. Elas se solidificam em nós, normalmente, por três vieses que são: a educação, nossos pais e a religião. Pois, hoje vou me ater, devido ao pouco espaço para tal, a analisar de forma bem sucinta, sob a ótica da razão e da lógica, duas crenças religiosas que se eternizaram no imaginário de uma enorme parcela da humanidade.
Começo por uma crença que muitos cristãos, inclusive eu, cresceram ouvindo e que ainda muitos consideram uma verdade indesmentível. Refiro-me a Adão e Eva, para muitos, o casal que deu origem à raça humana. Se você ler a Bíblia com uma atenção mais apurada vai perceber, porque está lá escrito, que Adão e Eva não formaram o primeiro casal, pois que, Caim após matar seu irmão Abel, conhece a sua mulher e futura esposa, e com ela fundam uma cidade chamada Enoc. E aqui começam a surgir as incongruências da história bíblica.
Onde Caim encontrou a sua mulher se, segundo consta, só existia um casal no planeta? Será que Deus, depois que "expulsou" Adão e Eva do paraíso, criou outra mulher para ser esposa de Caim? E fica ainda mais confuso quando diz que Caim e sua esposa fundaram uma cidade. Mas, fundaram uma cidade para que população habitar se somente existiam Adão, Eva, ele próprio, Caim, e a sua mulher surgida não se sabe de onde? A propósito, segundo a etimologia da palavra, "Adam", em hebraico, significa "ser humano" e "Hava", é "vida". Portanto a tradução correta seria: "Deus criou o homem e lhe deu vida" e não "Deus criou Adão e lhe deu Eva". Portanto, se você parar e raciocinar, sem o ranço religioso tão comum nesses assuntos, você corre o risco de chegar à seguinte conclusão de que algumas histórias bíblicas carecem de lógica.
Outra crença que povoa a nossa imaginação desde criança é a Arca de Noé. Pois, quem pesquisar a cultura Suméria, que existiu na região sul da Mesopotâmia (atual sul do Iraque), uma das civilizações mais antigas do mundo junto com o Egito antigo (3300 a 1200 a.C.) vai encontrar na Epopeia do rei Gilgamesh a história de um herói chamado Utnapishtim que, durante um grande dilúvio, teria construído a mando dos deuses uma arca gigantesca para abrigar a sua família e um grande número de animais. Os historiadores acreditam que essa história suméria tenha influenciado na narrativa hebraica sobre o dilúvio bíblico. Portanto, o Noé babilônico não é uma coisa nova e nem original.
Na cultura de todos os povos em todos os tempos, sempre existiram mitos e lendas. Por que na cultura judaica seria diferente? Mas o que mais chama a atenção para quem analisa essa crença sob o cunho da razão é que se o dilúvio foi universal como muitos pretendem fazer crer, como explicar a forma de como Noé conseguiu salvar espécies dos outros quadrantes do mundo, inclusive das regiões congeladas dos polos? Se essa crença também for analisada sob o crivo da razão, não temos outra alternativa senão colocá-la, também, no mesmo pacote da de Caim e Abel, ou seja, essa história bíblica também não tem lógica.
Sei, perfeitamente, que em assuntos religiosos, por ser algo, invariavelmente, nos passado de pai para filho, sempre se busca justificativa para aquilo que um dia nos ensinaram. O grande problema não está aí, e sim em não analisarmos, depois de adultos e dotados da capacidade de raciocinar logicamente, se aquelas crenças passadas como verdades são passíveis de serem aceitas por nossa razão ou não. Hoje, mais do que em qualquer outra época, tudo que ouvimos, lemos e vemos deve ser analisado e não aceito passivamente conforme procediam nossos ancestrais. É incontável e impressionante o número de pessoas que, ainda hoje, por causa de histórias fantasiosas disseminadas há milênios, nascem, crescem, vivem e morrem acreditando no Juízo Final, que anjo tem asas, o diabo tem chifres, que Deus castiga, que o inferno é um lugar predeterminado e que tem fogo eterno, que Moisés abriu as águas do Mar Vermelho e em tantas outras lendas com origem na antiguidade e que nos dias atuais se analisadas de forma racional não passarão de meras lendas embaladas pelo imaginário de quem as criou.
Porém, se essas histórias fossem criadas hoje e disseminadas nas redes sociais, com certeza absoluta, tal a sua improbabilidade, entrariam no rol das fake news.